Barco Solto no Mar (Parte I e II)
Parte I
Meus delírios estão
dançando em meio
as loucuras que me salvam e me matam,
anestesiando a dor,
navegando em um mar profundo
me distraindo com o raso,
longe demais para me preocupar.
Eu sou um barco solto no mar,
você não saberá
para qual direção eu irei,
nem mesmo eu sei,
imprevisível como um tiro no escuro,
essa é a minha virtude
e a minha maldição.
Eu vou mergulhar
nessa noite e me despir
de todas as mentiras que
eu costumo contar,
as vezes até eu acredito nelas,
me desculpe se a minha verdade
durar apenas por alguns minutos,
eu nasci para a fantasia.
Eu posso me apaixonar
rapidamente como quem
ensaia uma peça minutos antes de estreá-la,
eu nunca sei para qual
caminho meu coração irá me levar,
você nunca me entenderá,
esse é um desafio que nem
eu estou disposto,
eu sou uma noite estrelada,
você precisa ir para longe da cidade
para conseguir enxerga-la,
talvez chova essa noite.
Me tome como uma tequila
ou como um vinho suave,
um gole até ver as estrelas
e depois desejar nunca ter
me conhecido,
eu gosto das cores
que o verão possui,
mas o cinza de um céu de chuva
soa tão profundo,
eu sou uma perfeita contradição.
Parte II
Em alguns momentos as paredes
parecem falar,
ainda sinto as minhas cicatrizes
arderem a noite,
meus pulmões estão com cada vez menos ar,
vendo o tempo passar,
minhas pedras não estão
mais em minhas mãos.
Quem eu sou
quando todos os olhares não
estão em mim?
Quem eu sou quando a luz apaga
e eu preciso lidar com todos os meus monstros
guardados de baixo da língua?
Quem eu sou quando
quando só resta a verdade em minhas mãos?
Eu já andei por tantos lugares,
meus pés já sangraram tantas vezes,
estou cansado de lutar o tempo todo,
eu queria apenas encher os meus pulmões de ar,
queria não temer o amanhã,
queria apenas não ser devorado o tempo todo
pelos meus pensamentos.
Tem horas que consigo
sentir com calma o sol aquecer a minha pele,
tem dias que eu consigo ser
o mesmo de antes, tem dias que minhas
cores acendem e eu me sinto em casa,
porque esse não pode ser eu o tempo todo?
embora eu tente esconder as minhas cicatrizes,
elas sempre aparecem quando eu fico nu.
Se você ver um barco solto no mar,
talvez seja eu navegando
na parte mais profunda do que sou,
me sentindo vivo, sem sentir
medo das nuvens de chuva formando uma tempestade,
agora consigo entrar no mar,
embora, as vezes, ainda sinta medo de sair do raso,
quero apenas ir em direção ao horizonte,
é preciso aprender a navegar,
um barco solto no mar.
PROJETO CONTRADIÇÕES COTIDIANAS, EM BREVE COMPLETO.


